A vida (não) é um jogo: os abismos da imagem no filme eXistenZ
DOI:
https://doi.org/10.25770/artc.25289Palavras-chave:
David Cronenberg, eXistenz, cinema, science fiction, cibercultureResumo
Escrevi esta recensão em forma de ensaio sobre o filme eXistenZ (Canada/UK/France, 1999) em 2007, a pedido dos meus alunos de 4º Ano de Licenciatura de então, empenhados em editar um nº especial da Revista Portfolio sobre a temática do impacto das novas tecnologias na vida de todos os dias. O filme fora realizado por David Cronenberg oito anos antes, no fim de uma década em que os videojogos e as plataformas de entertenimento em linha conheceram um desenvolvimento exponencial. No meu caso, interessavam-me sobretudo as questões do cinema – Cronenberg foi sempre um dos meus cineastas contemporâneos preferidos -, e o modo como as suas formas nos permitem “aceder” a dimensões mais-que-humanas. A seu modo, o cinema foi, desde sempre, um ecrã de “realidade virtual”, um espaço outro, quiça Foucaultiano, um “mundo possível”, que - tal como a inspiradora ficção científica de Isaac Asimov (1920-1992), escritor e cientista, bioquímico, cujas estórias me fascinaram na infância e adolescência – ajudou a instalar a minha paixão por esse limbo do (des)conhecimento que se forma quando a arte e a ciência de cruzam. Foi esse persistente fascínio pelo abismo das imagens de Cronenberg que me levou novamente ao filme, em 2015, agora para lhe extrair, no limite, um conceito de jogo, a apresentar no âmbito de um workshop. Mas treze anos depois do primeiro exercício de escrita sobre eXistenZ – que aqui vos deixo com alterações mínimas – é com alguma apreensão que releio estas linhas e descubro nelas um extraordinário espelho possível da actualidade. Dizem que o cinema não é a vida, e que a vida não é um jogo. Mas, em defesa do cinema, que Aristóteles não conheceu, tomo a liberdade de invocar a sua Poética, para dizer: o cinema como a poesia – ao contrário da história -, não fala nunca do que a vida foi mas do que ela podia ser...
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